"Que fazer com eles?" Deixai-os brincar
Uma nota de humor negro de dúbio gosto para a sua silly season
Acordámos com a notícia que o presidente do Morgan Stanley se conta entre os desaparecidos do iate de luxo que naufragou ao largo da Sicília, depois de ontem já ter sido noticiado que um dos maiores milionários britânicos estava também a bordo. Este infortúnio náutico da elite financeira global pôs-me a pensar e, como nem sempre a minha mente trabalha com fins elevados ou produtivos, permitam-me que partilhe convosco a reflexão abaixo.
Após as grandes descontinuidades históricas que constitutem as revoluções, surge sempre a velha questão: "o que fazer com eles?", referindo-se aqui o "eles" àqueles que acabaram de ser depostos.
A resposta a essa questão obedece sempre a uma conjugação de fatores, entre os quais se contam a intensidade da atividade repressiva do seu mandato, o posicionamento dos revolucionários triunfantes e avaliação de risco de um contragolpe.
Foi assim que o Luís, XVI perdeu a cabeça, os Romanov acabaram varados por chumbo, mas o Marcelo e o Tomás foram só de viagem até ao Brasil.
De qualquer modo, como a eliminação física de adversários políticos se presta a grandes traumas históricos, há sempre grande cautela em abordar esta questão. "Será que o Luís XVI tinha mesmo de perder a cabeça? E não poderiam os Romanov ter ido para o exílio?". São, habitualmente, questões imbuídas de grande candura histórica, de quem acha que, afinal, qualquer tempo histórico, por mais convulso, seria sempre compaginável com fazermos todos uma roda e dançar o kumbaya. Não são problemas que me atormentem demasiado. Mas, ainda assim, a questão coloca-se.
A boa nova é que, em linha com a experiência recente, aqueles que pretendam liquidar uma elite recém-deposta podem finalmente libertar-se destas inquietações.
Perante a questão: "que fazer com eles?", a resposta é simples: deixai-os brincar. O caso dos multimilionários que morreram no submarino privado ou destes magnatas que naufragaram no seu iate demonstram um padrão muito claro: as elites tendem a subestimar o risco dos seus brinquedos.
O consumo conspícuo, para resgatar um conceito do velho institucionalismo económico de Veblen - usado para descrever a tendência de consumo ostensivo das classes possidentes e refletir sobre os seus efeitos - é afinal cada vez mais perigoso para os próprios e pode, assim, encerrar a resolução para questões difíceis para os movimentos políticos emanciptórios.
Assim, o meu mais vivo conselho para o comité da revolução futura é que entregue um balão de ar quente, um foguete aeroespacial - ou algo do género - aos Romanov futuros e os deixe tratar do assunto.
Tudo seria muito lindo se eles não tivessem numerosos discípulos. O problema nunca será o existirem poderosos, o problema será sempre existir uma cultura que incuta em largas fatias da população o desejo, muitas vezes não assumido ou inconsciente, de também ser igual ou melhor no campeonato da exploração descarada do próximo.
Quase a sério https://taxjustice.net/press/countries-can-raise-2-trillion-by-copying-spains-wealth-tax-study-finds/