O revelador choque de uma certa esquerda urbana

A propósito da presença do PS Benevente numa manifestação contra a construção de uma mesquita no concelho

Estou a apreciar bastante o choque e surpresa de uma certa esquerda urbana, quando descobriu que o PS de Benavente esteve numa manifestação "pelos nossos valores e tradições", contra a construção de uma mesquita no concelho.

É a mesma esquerda que fica chocada por Ricardo Leão ter o discurso que tem em Loures relativamente à comunidade cigana. É o mesmo grupo de pessoas – onde se contam estimados amigos e camaradas – que vive na fantasia de que o discurso maioritário do PS sobre estes temas é o da Isabel Moreira. Não fazem ideia do tipo de pessoas que habita esse partido a 20 ou 50km de Lisboa e, com efeito, consideram que coligações de esquerda amplas nas autarquias devem ser aplicadas de forma generalizada.

Tudo isto parte de um enorme desconhecimento da origem sociológica das bases deste partido em zonas com tradição de esquerda, na periferia de Lisboa, no Ribatejo e no Alentejo. Ainda que haja pessoas genuinamente de esquerda do PS nesses locais, muitos, mesmo muitos, são socialistas, em primeiro lugar, porque são anti-comunistas e católicos. O PS sempre foi um partido “pega-tudo” nesses territórios. Em largos segmentos, sobre temas como a imigração e a tolerância religiosa, o discurso é indistinguível do CH. Continuaremos a ver a contaminação do discurso de extrema-direita alastrar não apenas à direita, mas também àquilo a que muitos acham ser o centro-esquerda, mas que, na verdade, é uma coisa politicamente muito mais indefinida. Veremos também um avolumar das passagens diretas do PS para esse partido. De resto, como já aconteceu com a candidata do CH na Azambuja nas últimas eleições. É tudo uma questão de tempo.

Entretanto, aguardamos que o PS retire a confiança política aos seus candidatos de Benavente. Atitude imediata, se a unidade antifascista fosse mesmo a sua prioridade. Aguardamos sentados, claro.