Gouveia e Melo não veio do éter. O seu Dr Frankenstein é António Costa.
Não nos esquecemos do que fez no Verão passado, senhor Presidente do Conselho Europeu
Agora que é dado por certo que Gouveia e Melo apresentará a sua candidatura em Março, é boa altura para recordar que Gouveia e Melo é um monstro político cujo ensejo foi criado pela forma de governar míope de António Costa. Costa é o seu Dr. Frankenstein.
Recuemos na história: estávamos em 2021, em pleno processo de distribuição de vacinas pelo território. Francisco Ramos, civil e académico respeitado na área de saúde pública, era o responsável pela estrutura de missão e estava sob fogo da comunicação social, por problemas episódicos de indevida distribuição de vacinas em alguns pontos do país. Embora os casos não fossem particularmente graves face à escala da operação, Francisco Ramos foi forçado a demitir-se. António Costa decidiu, então, nomear um militar, o comandante Gouveia e Melo.
Sabia bem que tal nomeação acalmaria uma comunicação social há muito refém das agendas da direita e seria bem acolhida por uma população sempre fascinada por homens providenciais, sobretudo aqueles que inspiram uma imagem de ordem. Se tiver botas cardadas e camuflado, tanto melhor.
Como seria de esperar, em tempos caracterizados pelo entranhar de sentimentos proto-fascistas, foi como acender um fósforo em seara seca. As críticas da comunicação social desvaneceram-se magicamente e a figura autoritária de Gouveia e Melo foi popular, garantindo a Costa um ganho político de curto-prazo.A óbvia justificação estrutural para uma maior capacidade dos militares de gerirem processos com este perfil ficou por mencionar.
O motivo pelo qual os militares podem ser boas escolhas para este tipos de posições não tem nada a ver com a postura autoritária dos seus líderes, nem com serem militares. Resume-se a serem uma das poucas estruturas do Estado em que ainda há quadros treinados e dedicados a fazer planeamento e provisão.
Essa pedagogia ficou por fazer, em grande medida porque não convinha ao PS fazê-la, já que durante décadas foi responsável pela destruição do planeamento dos ministérios, aumentando o recurso à consultoria externa. Com a omissão desse nexo causal, sobrou apenas a poderosa ilusão da associação entre a autoridade do comandante e a eficiência do processo.
Aqui chegados, pagamos a inconsistência temporal da forma de governar de Costa. Ungido dessa espécie de probidade única, o comandante é candidato a PR com boas hipóteses. Em tempos periogosos, é alguém que não hesitará em tomar o discurso da escalada belicista. É um cenário tão alarmante quanto parece.
Quanto a António Costa, esse, está lá instalado como Presidente do Conselho Europeu. Em Bruxelas, onde vão repousar todos os dinossauros do extremo-centro das democracias nacionais depois de terem servido o imperalismo neoliberal e neoburocrático da Comissão. Como Nero, verá os efeitos da sua crepitante obra ao longe.
Revejo-me na análise do cripto(?)socialista da terceira via. Costa sempre geriu o momento, como bom situacionista que é. Por outro lado, não deixa de ser espantoso que Gouveia e Melo se ache com perfil, conhecimento e competência para ser Presidente da República, mesmo percebendo que olhe para o atual performer do cargo e julgue ser capaz de o fazer melhor. O que vale é que a "esquerda" está atenta e já apresentou António José Seguro. Como agnóstico resta-me dizer Irmã Lúcia, vem cá abaixo e traz a palmatória. Let's get kinky