Rui Barrada, CEO do site Dr Finanças, tem opiniões. De enorme profundidade, acrescente-se. Diz Rui Barrada em entrevista ao ECO: “Só faz sentido trabalhar se tiveres um sonho, seja ele qual for”.
Temos de convir que Rui Barrada tem uma certa razão. Desde que o capitalismo existe, todos os que trabalham em regime assalariado sem acesso aos meios de produção têm um sonho, bastante prosaico até: ter, pelo menos, o que comer ao final do dia. É em nome desse sonho que trabalham. De facto, não fosse a sua capacidade de sonhar com o não perecer e teriam escolhido o ócio. Valha-nos a ironia…
Mas, afinal, quem é Rui Barrada? O Rui Barrada é um rapaz que viu uma oportunidade e lançou um site de conselhos práticos para finanças individuais. Assim como há quem tenha revistas ou canais de youtube com conselhos práticos de como reparar automóveis ou cozinhar. Tudo muito certo. São úteis e eu utilizo. No entanto, o problema dos tempos modernos é que se autodesignam de CEOs, o que os unge logo de um imenso gravitas e, de súbito, alguém lhes põe um microfone à frente e lhes faz questões sobre o mundo. As quais, porque têm a profundidade de pensamento de uma poça de água, acabam sempre com respostas ridículas para quem tem o mínimo de sentido crítico.
Querem perguntar algo ao Rui, perguntem-lhe sobre tabelas de IRS ou simulações de depósito a prazo. Tal como, se quisessem fazer questões à Maria de Lurdes Modesto, que em meados do século XX dava conselhos práticos de culinária na TV, lhe perguntariam sobre a melhor forma de fazer um refogado ou confitar bacalhau. Mas, por favor, atenham-se àquilo sobre o qual têm conhecimento ou pensamento.
Assim como não me paraceria particularmente sensato perguntar à Maria de Lurdes Modesto qual era a sua opinião sobre o cisma sino-soviético ou sobre a crise dos mísseis de Cuba, também não me parece nada relevante saber a opinião do Rui Barrada sobre a a condição aspiracional dos trabalhadores nas sociedades contemporâneas.
Eu tenho vários sonhos. Um deles é extinguir a esperteza saloia dos CEOs no espaço público. Quanto aos métodos, estou aberto a considerar vários, em função do tempo histórico e da força social. If you know what I mean…
😄😄😄 Hilariante, sem qualquer menosprezo, pelo contrário. Felicitações!
Mais um 🎯 como nos tens habituado.